Por: Luiz Doles
Na última década, a rápida evolução das novas tecnologias nas áreas de informação e comunicação vem reconfigurando a estrutura dos sistemas financeiros e da indústria de investimentos. Com isso, além da percepção do mercado de que as inovações tecnológicas podem viabilizar a criação de novos produtos, os bancos centrais e demais reguladores financeiros vêm apoiando tal impulso inovador por meio de diversas iniciativas.
Nesse sentido, surgiu a tokenização de ativos, de forma a ampliar a eficiência dos mercados tradicionais, apresentando dessa forma, os potenciais impactos sobre o arranjo da indústria de títulos e valores mobiliários, possibilitado através da tecnologia blockchain, cujas novas soluções são desenvolvidas, além de ampliar a eficiência das aplicações.
Tokens são representações digitais de frações de ativos que possuem valor comercial e eles podem representar tanto bens tangíveis como equipamentos, imóveis ou obras de arte, tanto quanto ativos intangíveis, como patentes, direitos autorais e obras de arte digitais.
Nessa linha, entende-se que a tokenização de ativos, nada mais é que a transformação de ativos “físicos” em ativos digitais, através de um processo de representação digital de valor econômico e direitos de um ativo real preexistente ou a emissão de classes tradicionais de ativos em forma de tokens. Esse processo permite, portanto, que os tokens sejam negociados entre pessoas de qualquer lugar do mundo com facilidade e extrema segurança.
Um aspecto relevante da tokenização de ativos são as múltiplas possibilidades de aplicação da tecnologia de registro distribuído, havendo um importante impacto em todas as atividades do mercado de capitais. A tecnologia utilizada por estes é a de registro compartilhado, em inglês, distributed ledger technology (DLT), que consiste em uma tecnologia de armazenamento e edição compartilhada de dados. É possível armazenar informações em cópias digitais, mantendo-as disponíveis em diferentes locais de uma mesma rede, dispensando por vezes a existência de uma entidade centralizadora. Essa tecnologia DLT, introduz algumas mudanças na operação dos mercados de capitais como maior velocidade dos processos, maior variedade de ativos digitais transacionados, desenvolve novos meios de pagamento, reduz custos uma vez que muitos processos são automatizados, além da maior transparência e conformidade com os órgãos regulatórios e incrementa novos papéis para os atores tradicionais do ecossistema financeiro, abrindo espaço para a criação de novos ativos e mercados, e múltiplas possibilidades de atuação para os atores tradicionais do ecossistema financeiro.
Essa tecnologia é de extrema relevância pois possibilita que valores mobiliários, commodities e ativos quaisquer (financeiros e não financeiros) sejam convertidos em ativos digitais criptografados, registrados e transacionados em uma rede descentralizada.
Ademais, insta salientar, que a tokenização de ativos tem como base a mentalidade de mercado voltado para colaboração e os avanços tecnológicos, além de um sistema que descentraliza a informação e elimina intermediários de forma segura e transparente. Desse modo, pode-se afirmar que a blockchain é um serviço seguro e utilizado para gravar transações monetárias em sua rede descentralizada de computadores. Assim, pode-se dizer que a blockchain é uma rede computacional descentralizada de registro público.
Em suma, um ativo tokenizado é um ativo particionado juridicamente de forma digital registrado em rede blockchain, que garante a segurança de todas as transações. É essa tecnologia que permite a troca de informações de forma descentralizada, na qual todos os participantes da rede garantem a veracidade dos termos e das condições de uma transação.
Existem dois tipos principais de token: os fungíveis que são divisíveis em partes exatamente iguais e intercambiáveis e os não fungíveis que são únicos e indivisíveis em partes iguais, cujas partes não são intercambiáveis.
Em alguns casos, as remunerações dos tokens variam dependendo da valorização do ativo, porém elas podem ser pré-definidas ou funcionar de outras formas. Os retornos são sempre relativos ao tipo de ativo. Com isso, é possível investir em qualquer ativo, inclusive os de alta performance, geralmente restritos a grandes investidores e instituições financeiras.
A exemplo das debêntures tokenizadas pela Salinas Participações, com coordenação do Itaú BBA, com volume de R$ 74 milhões, representados por 74.000 tokens de R$ 1 mil cada. Uma outra emissão grande foi de cotas tokenizadas do QR Rispar Crédito Cripto, fundo de direitos creditórios, lançado pela QR Asset. A captação foi de R$ 8 milhões, representados por 8.000 tokens de R$ 1 mil a unidade. Ambas as ofertas foram voltadas para investidores qualificados e profissionais. Outrossim, a tokenização está abrindo portas para investimentos alternativos e inovadores que representam novas oportunidades de diversificação e alocação de patrimônio.
Especialistas do setor e agentes de mercado acreditam que a evolução desses e de outros projetos de tokenização de ativos financeiros no mercado regulado deve acontecer com certa velocidade, contudo de forma gradual, chegando ao pequeno investidor em poucos anos e com uma oferta de produtos de investimento que atualmente não são acessíveis a proporcionar a empresas acesso a capital com menos custos.
Por fim, deve-se salientar, que como em qualquer outro tipo de aplicação financeira, investir em ativos tokenizados também requer uma avaliação dos riscos envolvidos. Muitos dos riscos a se considerar antes de investir são os mesmos dos investimentos em geral, a performance, o contexto macroeconômico, a especulação e a liquidez. No caso da tokenização, e dos criptoativos de uma maneira geral, há que se considerar também a volatilidade característica desses ativos.
Portanto, antes de realizar qualquer operação, é indicado fazer uma avaliação dos riscos de acordo com cada investimento específico de acordo com todos os pontos trazidos acima. A chave para entender o verdadeiro potencial dos ativos tokenizados começa sempre com uma visão detalhada do próprio conceito.
Com a colaboração de Andrea Carvalho