Por: André Jerusalmy
Um dos fatos mais marcantes do ano de 2021 foi a alteração de nome do Facebook, que passou a se chamar “Meta”. Essa alteração não foi mero modismo (ou oportunismo) em razão do momento de crescimento de projetos voltados ao ambiente virtual que se convencionou chamar de metaverso, mas sim resultado de anos de trabalho e investimento em tecnologias que permitam ao usuário mergulhar ainda mais em uma vida online.
Aos leitores mais desavisados, é importante ressaltar que metaverso não é um conceito simplório no qual os usuários terão uma experiência virtual imersiva aos moldes dos jogos “The Sims” ou “Second Life”, mas sim uma realidade paralela complexa, na qual atos da vida cotidiana tais como comprar uma propriedade ou uma obra de arte serão feitos de forma totalmente digital. Esse tipo de realidade on line multifacetada e descentralizada está sendo chamado de Web 3.0., porém para facilitar o entendimento das diferenças entre o que é a Web 3.0 e das Webs 1.0 e 2.0, segue abaixo um comparativo entre tais universos:
WEB 1.0 | WEB 2.0 (atualidade) | WEB 3.0 |
Conteúdo unidirecional, no qual usuários consomem conteúdo em portais/sites Ex: Yahoo, Uol, AOL, etc |
Grandes corporações controlam ferramentas digitais e usuários compartilham dados e criações em tais ferramentas Ex: Facebook, TikTok, Youtube, etc |
Empresas, moedas, obras digitais e entretenimento digitais. Usuários serão ao mesmo tempo consumidores, desenvolvedores e donos.A realidade será integrada, e será difícil dissociar o real do digital |
Caso o conceito de metaverso e web 3.0 ainda não esteja claro, vamos tentar exemplificar: Imagine que determinada usuária possui um apartamento no Decentraland e decide reunir algumas pessoas que conheceu de forma virtual nesse apartamento. Para receber suas convidadas, ela irá utilizar óculos de realidade virtual feito pela Oculus e seu avatar digital irá usar uma combinação de roupas feitas em NFT pela Stella Mccartney que ela pagou 0,1 Ethereum. Nas paredes de seu lar digital também há algumas obras digitais, mas para impressionar os convidados, no centro da sala ela disponibilizou sua obra mais cara, um NFT do Bored Ape Yacht Club que ela comprou por 10 Ethereums (equivalente, em janeiro de 2022 a US$32.000,00).
É possível que mesmo após a explicação e exemplos acima, entender o que significa o metaverso ainda seja algo nebuloso, então faremos mais um paralelo: Durante a web 1.0, as pessoas estavam tentando entender como a então nova linguagem funcionava e a troca de e-mails era uma grande inovação, fazendo com que em pouco tempo surgissem grandes oligopólios digitais tais como Microsoft, Yahoo e Apple, e a Internet se tornasse, literalmente, inestimável. Na geração “Web 2.0”, o movimento de valorização da internet se tornou ainda mais intenso e as empresas chamadas “FAANG” (Facebook, Amazon, Apple, Netflix e Google) se tornaram grandes potências.
É difícil prever a dimensão que o metaverso terá, porém em um mundo no qual milhões de pessoas já nasceram como nativos digitais, ou seja, têm como algo natural a convivência com meios de comunicação, pagamento e diversão digitais, é possível que tenhamos, muito em breve, espaços de convivência exclusivamente digitais, no qual diversas empresas terão mais funcionários remotos (ou melhor, no metaverso), do que fisicamente em escritórios. O próprio Bill Gates afirmou, em artigo de encerramento do ano de 2021, que acredita que em dois ou três anos a maioria das reuniões virtuais deixará de ser bi-dimensional, ao estilo zoom, e passarão a ser tridimensionais.
Um ponto relevante é que a economia do metaverso será baseada em criptomoedas, sendo que com elas são a espinha dorsal que sustentará não apenas a acumulação de patrimônio, como também o funcionamento dos sistemas em si, sempre baseados na blockchain. Diversas marcas, inclusive marcas de luxo como Nike, Adidas e Gucci já estão desenvolvendo produtos (em NFTs), com ativos digitais que irão preencher o metaverso. Além disso, novas profissões, tais como corretores de imóveis digitais, estilistas de NFTs e consultores de tokenização irão surgir em razão das novas demandas de mercado, e quem estiver antenado a tais demandas e se antecipar aos novos desafios terá uma grande vantagem competitiva com relação a quem não acompanhar esse desenvolvimento.